Vivemos em um mundo incessantemente atravessado por imagens produzidas e descartadas quase de forma instantânea. A proposta deste livro caminha na direção oposta: resgatar uma outra maneira de produzir imagens — uma fotografia lenta e atenta, que valoriza a manualidade e a artesania.

​

Minha intenção, com este manual, é oferecer conhecimentos básicos para que você possa dar os primeiros passos no universo da fotografia pinhole, experimentando uma prática que exige mais do tempo e do olhar. Mas saiba que, quando se trata de conhecimento, os caminhos que se abrem aqui são infinitos. É possível passar anos estudando e aprimorando a técnica, mas também é perfeitamente possível realizar um experimento fotográfico logo no início, com pouco ou nenhum conhecimento prévio, apenas com base na experiência que compartilho aqui. Este manual é, afinal, uma síntese dos aprendizados acumulados ao longo dos meus últimos dez anos de trabalho com o projeto Fotolata – Arte e Ciência e, antes disso, como assistente de José Rosa, idealizador do projeto.

 

Sempre enxerguei a fotografia pinhole como uma forma fascinante de revelar o caráter material, palpável e mensurável da fotografia, baseada em leis da física e da química. Ao mesmo tempo, ela preserva um elemento mágico e lúdico muito difícil de descrever. Tão comovente quanto ver, pela primeira vez, uma imagem projetada no inte- rior da camera obscura, ou assistir ao surgimento de uma imagem sobre o papel fotográfico sob a luz vermelha do laboratório, é ser testemunha da reação de surpresa das outras pessoas que presenciam esses fenômenos pela primeira vez.

​

Além de desmistificar a aparente complexidade dos dispositivos fotográficos, a técnica pinhole permite uma abordagem interdisciplinar e transversal. Não se trata apenas de física e química, mas também de artes, filosofia, sociologia, história — inclusive da própria fotografia —, matemática (com seus ângulos, proporções e relações geométricas), biologia (nas relações entre a camera obscura e o olho humano, ou entre a fotossíntese nas plantas e a fotos- sensibilidade do papel fotográfico), e até de língua portuguesa, na reflexão sobre linguagem e na relação entre texto e imagem. Há muito a se aprender com a fotografia pinhole — e não apenas sobre fotografia. Acima de tudo, ela nos ensina sobre um outro tempo: o tempo da espera, tão distinto do ritmo acelerado de produção e consumo de imagens que caracteriza o mundo digital e hiperconectado de hoje.

Este manual foi pensado para jovens, professores do ensino fundamental e médio, pais que queiram desenvolver atividades com seus filhos, artistas, fotógrafos e, em última instância, para todas as pessoas curiosas o bastante para se lançar na aventura da fotografia pinhole.
 

Muitas vezes, pensei que deveria incluir mais informações técnicas; mas, ao refletir sobre os “marinheiros de primeira viagem”, concluí que, talvez, mais importante do que saber tudo sobre nós, ventos e marés, seja simplesmente se lançar ao mar. O aprendizado acontece no percurso — e o mar, como sabemos, ensina mais sobre navegar do que qualquer livro jamais poderia.​

 

​                                                                                                                  Ádon Bicalho